Faleceu,
alguns bons anos atrás, com aproximadamente 72 anos de idade, no Hospital de
Coreaú-CE, Francisca das Chagas Paixão, por todos conhecida como Chaga Mossoró,
vitimada por um acidente vascular cerebral (AVC) com perda de visão.
Chaga Mossoró era uma pessoa sozinha, sem eira nem beira. Vivia ao
deus-dará, mendigando pelas ruas da cidade. Não tinha parentes próximos em
Coreaú e sequer possuía documentos pessoais, razão pela qual não se sabe ao
certo a sua idade. Chegou ao nosso torrão há muito tempo. Aqui, “sobreviveu”
cerca de trinta anos, numa sórdida solidão, definhando paulatinamente. Não
fosse a compaixão dos conterrâneos - principalmente de dona Caluta, senhora
viúva, dotada de espírito de solidariedade, indubitavelmente, Chaga Mossoró
teria morrido muito antes.
A nossa personagem era um tipo clássico. Em suas andanças pelas
residências locais, à procura de alimentação, não admitia comer em prato de
ninguém, mesmo limpo. Em cada casa ela exigia seu prato, colher e copo em
separado, pois segundo supunha, as pessoas poderiam lhe repassar moléstias
incuráveis. Nas praças e no mercado público pedia dinheiro aos transeuntes,
entretanto, só queria se fosse em moedinhas. Depois de algum tempo, só queria em cédulas,
guardando-as em um saco, para em seguida colocá-lo junto aos seios, como um
cofre pessoal. Adorava festejos religiosos e não perdia um. Sua alegria era ir
às novenas de vestido novo, de chita.
Foi sepultada no cemitério de Coreaú, sendo que o
funeral ficou às expensas da família de dona Caluta.
Coreaú-CE, 08 de março de 2013.
FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE
Professor e membro da APL
Coreaú-CE
Fonte: Facebook do Fernando Deda